terça-feira, 13 de abril de 2010

Entrevista: Perspectivas para o mercado digital

Entrevista: Perspectivas para o mercado digital: "

Cláudio CoelhoAlém da apresentação dos portfólios de 48 agências digitais de diferentes regiões do país, a edição de março da Webdesign apresenta uma entrevista exclusiva com representantes de associações digitais como ABRADi, ABRADi-RJ e ADBA, no qual são abordados temas como modelos para cobrança de serviços on-line, perfil de profissionais mais requisitados, média salarial, entre outros.


Dando continuidade ao assunto, conversamos também com Cláudio Coelho, presidente da APADi (Associação Paulista das Agências Digitais). Confira o resultado a seguir.


Wd :: Dois mil e duzentos e setenta e cinco. Esse é o número total de agências digitais atuantes no Brasil, segundo o Censo Digital 2009, realizado pela Associação Brasileira das Agências Digitais. Diante de sua experiência neste segmento, é possível apontar as principais vantagens e desvantagens, em termos técnicos, conceituais e de mão de obra especializada, das agências brasileiras em relação a outros mercados, como o norte-americano e o europeu?


Cláudio :: No mercado da comunicação tradicional, a criação brasileira tem espaço de destaque no cenário internacional. E isso acontece também na comunicação digital. Em termos técnicos, inovamos na criação, no conceito, mas muitos dos projetos desenvolvidos têm com base algo já executado lá fora. Especialmente projetos baseados em tecnologia Flash, que – excepcionalmente nesse caso – nossa escassez de mão de obra é muito grande, se comparada a outros mercados.


No Brasil, nossa mão de obra é muito barata, se comparada a outros mercados (com exceção do programador Flash, bem menos escasso do que lá fora). Outra diferença é a maturidade do mercado em relação à cultura do anunciante em investir em mídia on-line. As empresas de fora destinam, no mínimo, 15% dos investimentos em ações digitais, frente a outros meios.


Wd :: No documento sobre concorrência e avaliação de serviços digitais, preparado recentemente pela APADi, são descritos cinco tipos de perfis de parceiros neste segmento: freelancers, microprodutoras, agências de publicidade, fábrica de software e agências digitais. Diante dos critérios utilizados pela associação, quais são as características essenciais que uma empresa deve possuir para ser classificada como uma agência digital?


Cláudio :: Esse assunto foi muito polemizado e discutido dentro da APADi, sempre com questionamentos sobre quais associados poderiam – ou não – ser considerados agências digitais, uma vez que algumas empresas tinham foco no desenvolvimento (criação e/ou tecnologia) e, assim, não passariam de produtoras web, enquanto – baseado no modelo da publicidade tradicional - só as que autorizassem mídia seriam consideradas agências digitais.


Assim, em meados de 2009, a APADi fez um projeto o qual estudou todos os serviços prestados por empresas do setor e concluiu que temos dois tipos de agências digitais:


- Agências Especialistas: com especialização e posicionamento em áreas específicas do nosso mercado. Exemplo: Social Media, SEO, SEM, Tecnologia Web, Planejamento, Criação. Normalmente atuam com uma ou duas especialidades;


- Agências Full Service: posicionam-se no atendimento completo ao cliente. Exemplo: agências que fazem planejamento, criação, tecnologia e divulgação de uma ação para o cliente.


E a ABRADi também adotou com seus associados este mesmo conceito.


Wd :: No início do ano passado, em nossa edição comemorativa de cinco anos de existência, visitamos mais de 30 empresas espalhadas por oito capitais do país, para relatar ideias e visões sobre o mercado digital. Para Michel Lent, da Ogilvy Interactive Brasil, uma das possíveis transformações no modelo de negócios do mercado de comunicação é a descentralização, “o que significará muito dinheiro circulando nas mãos de muitas pessoas, pulverizado em mais atividades”. Em sua opinião, quais são os caminhos necessários para que as agências digitais possam atrair mais verbas na criação e no desenvolvimento de projetos para mídias interativas?


Cláudio :: Acredito que o caminho seja oferecer para os clientes cada vez mais serviços alinhados à estratégia de negócios dos mesmos, pois é comum que as agências entreguem como produto final somente criação ou tecnologia, por exemplo.


Quando as mesmas mostrarem aos clientes que são capazes de entregar “entendimento a fundo dos seus negócios”, o resultado poderá em muito ser maximizado, deixando essa agência indispensável para tal cliente em novos trabalhos. E isso é possível com o investimento em profissionais que tenham grande know-how em planejamento estratégico.


Outro caminho é agregar valor em serviços atualmente executados de forma básica, como, por exemplo, o monitoramento de marcas nas redes sociais, que normalmente entrega apenas um relatório aos clientes de interações positivas, negativas, neutras e oportunidades.


Com o emprego de profissionais que estudam o comportamento humano (sociólogos, psicólogos etc.), um relatório comportamental dos consumidores de uma marca avaliada pode agregar muito valor a esse serviço.


Wd :: Nesta mesma edição, Lent analisou as perspectivas para os profissionais que pretendem atuar no segmento web. Sobre as oportunidades, ele apontou a grande procura das agências por profissionais especializados, como arquitetos de informação, gerentes de projetos e planejadores de mídia. Para 2010, quais são os cargos e as funções que podem apresentar boas oportunidades para os profissionais de internet? E quais são os requisitos que as agências devem utilizar para buscar e reter os melhores talentos na área?


Cláudio :: Como os profissionais do nosso mercado são relativamente escassos, os mesmos citados pelo Michel continuarão em alta. Mas, devido à ascensão dos serviços relacionados a mídias sociais, acredito que muitas oportunidades serão geradas para profissionais que estudem o comportamento das pessoas, como sociólogos e psicólogos. Além destes, blogueiros, redatores e websurfers serão muito bem-vindos.


Mas eu não poderia deixar de citar o nosso tão sonhado e escasso programador Flash, em especial, pelo constante crescimento do uso da banda larga no Brasil – que propicia cada vez mais projetos interativos com uso de recursos dinâmicos, incluindo animações, realidade aumentada, inteligência artificial, dentre outros. Aposto que, além de uma boa remuneração, o desenvolvimento de projetos inovadores seja um fator importante para atrair e reter os bons profissionais.


Wd :: Ainda sobre o campo profissional, por ser uma área relativamente nova, as empresas encontram certas dificuldades na hora de criar um plano de cargos e salários que seja justo e adequado à realidade do mercado brasileiro. Quais são as dicas que a associação procura passar para seus associados em relação a este assunto?


Cláudio :: Ainda estamos um passo atrás neste assunto, tratando especificamente sobre o regime de contratação e seus custos para as agências digitais. Como nosso mercado é pouco consolidado, é possível que muitas aquisições, fusões ou aportes de investidores sejam realizados. Mas, para isso, uma boa governança corporativa se faz necessário – requisito básico, aliás -, além da legalização de todos os profissionais no regime CLT.


Mas, devido à elevada carga tributária, a APADI tem avaliado novos modelos de contratação, especialmente com base no mercado de TI. Por isso, qualquer que seja nossa proposta de contratação, há necessidade de estudos e avaliações que ficam sob a responsabilidade de nossa área jurídica.


Wd :: Uma das questões que ainda causa muita discussão nesta área envolve a forma para se determinar o valor a ser cobrado na prestação de um determinado serviço digital. Em maio de 2008, publicamos um especial sobre o assunto e três modelos de cálculos foram citados: homem-hora, comissão de mídia (em cima do percentual de mídia cobrado pelo cliente) e fee sobre resultado (agência ganha um percentual ou prêmio atrelado a metas do projeto). Atualmente, quais seriam os formatos mais adequados para que as agências digitais possam adotar um modelo ideal na hora de cobrar pela produção de seus projetos?


Cláudio :: Acredito que o modelo ideal tenha de ter um mix dos modelos citados. Independente da configuração, uma coisa é certa: o custo de uma operação sempre tem de ser recuperado. Pois, se isso não acontece, cada vez mais as agências se degradam com custos “tampa-buracos”, que num momento resolvem finanças, mas depois diminuem a qualidade dos projetos entregues aos clientes. Dependendo do porte da agência e do risco de cada operação, penso em duas situações:


- Modelo com divisão de riscos e resultados: um fee mensal que banque os custos fixos da equipe alocada + um % do resultado apurado pelo cliente + comissão variável de mídia, de acordo com o resultado alcançado; e


- Modelo fixo com % de mídia variável: um fee mensal com valor objetivado pela agência + comissão variável de mídia de acordo com o resultado alcançado, baseado em um % mínimo e máximo.


Wd :: Para finalizar, quais foram as principais realizações já conquistadas pela associação? E quais são os projetos para o ano de 2010?


Cláudio :: O ano de 2009 foi um ano para reestruturação da entidade. Trabalhamos forte na captação de novos associados, iniciando com 17 agências e fechando o ano com 40 (atualmente, somos em 46 associados). Instituímos um grupo de trabalho semanal para o desenvolvimento de projetos. Colaboramos com a fundação da ABRADi. Desenvolvemos a pesquisa sobre agências digitais no Estado de São Paulo, chegando ao número de 830 agências, avaliamos serviços mais relevantes e estimamos o faturamento de R$ 405 milhões.


Lançamos o documento de concorrência e avaliação, o qual, em 2010, trabalharemos forte na divulgação. Estudamos e formatamos os dois tipos de agências digitais (Especialistas e Full Service), lançamos o Webinformation com dois cursos na área de e-commerce e estabelecemos parcerias com empresas como IBOPE, Impacta, SENAC, Jet, Dinamize, Datadrome – gerando benefícios exclusivos para os associados.


Para 2010, entre março e abril, esperamos contratar um diretor executivo para tocar a associação. O primeiro projeto que já está em curso é o desenvolvimento da tabela de preços APADi. Também deveremos aumentar os temas do Webinformation e iniciaremos o estudo de um grande evento para o mercado, dentre outros projetos que estão sendo planejados.

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